sábado, 19 de novembro de 2011

LUGAR DA BELA



LENDA DA BELA: “A COBRA MOURA”

         Ainda compilado de: Ermesinde – Registos Monográficos, passo a transcrever esta lenda tal como os autores a descrevem:

         «Quem não se lembra ainda, dos que têm mais de sessenta anos, de ouvir falar na “cobra moura” que aparecia nos montes da Bela, então com verdejante e frondosa vegetação?
         Ali mesmo, ao lado do Rio Leça, próximo de uma fonte que la existiu e se denominava “Fonte dos Amores”, à qual se refere a bonita foto que reproduzimos, aparecia, há longos anos, uma grande cobra, que, além da dimensão, tinha a particularidade de ter cabelo na cabeça.
         Diziam os antigos que esse réptil, que àquele lugar levava inúmeros curiosos atraídos pelo fenómeno, era a “Cobra Moura”.
         Ora seja lenda ou verdade, pois não temos argumentos que nos levem ao apuramento dos factos, diz-se que em recuados tempos muitos carros de bois que ali passavam, sem que nada o fizesse prever, bois e carros eram atirados pelo declive, indo parar ao leito do Rio Leça como se tratasse de coisa ruim, ou, o que era mais verosímil, de mágico poder da “moura” transformada em cobra.
         A lenda alude ainda a outro caso invulgar, que era o desaparecimento de alguns rebanhos que se apascentavam nas ubérrimas margens do Leça e eram sonegados sem deixar rasto. Passar por ali, dizem os mais velhos, era um perigo e um desafio à “Cobra Moura”. Esta tinha poderes sobrenaturais, artes mágicas, que amedrontavam uns e desafiavam outros a invectivar o desconhecido, talvez o irreal, mas que faz do nosso património cultural, que devemos preservar».
        Sobre esta lenda conhecida no lugar da Bela e não pondo em duvida a descrição feita pelos seus autores, atrevo-me a dizer que tenho outra versão da lenda, que me foi contada há vinte e cinco anos atrás pela Sr.ª Ângela, uma simpática velhinha de 75 anos natural e moradora na Bela. Com a ajuda de seu marido, o bom Sr. António, narraram-me a meu pedido, a lenda que teve lugar nesta terra há muitos anos atrás, quando a Bela era mesmo muito bela com as margens idílicas do Leça cobertas de paradisíaco arvoredo. E foi assim:


LENDA DA BELA: “A COBRA MOURA” (OUTRA VERSÃO)

      
        «Conta a lenda, que num tempo muito distante em que os sarracenos por cá andaram, vindos da região de Leão fugidos à reconquista cristã, uma lindíssima moura, cujo a beleza enchia de inveja as mulheres do lugar, dando aso a desavenças sucessivas entre o povo, foi condenada à expulsão pela sua tribo, depois de ser transformada em serpente por uma bruxa de grandes poderes.
        Por essa altura noutro lugar, havia um pastor de ovelhas, um formoso rapaz, que todos os dias trazia o seu rebanho a pastar próximo à margem do rio Leça, sempre acompanhado do seu cão, que embora pequeno, impunha respeito ás ovelhas enquanto o pastor dormia a sua sesta, à sombra de um frondoso eucalipto que ali existia, mesmo ao lado de um riacho de água cristalina, que servia de fonte ás pessoas do lugar. 
        Todas as tardes enquanto dormia, o pastor sonhava com uma bela mulher que o acordasse num longo beijo de amor. Enquanto isso, no mesmo momento e levada pela sede que o Sol da tarde fazia, uma serpente descia cautelosamente do enorme eucalipto onde vivia para beber na fonte.
        Era uma serpente de tamanho razoável e não fora a circunstância de ter cabelo na cabeça, o que assustou os poucos que a viram, nada de anormal teria acontecido. Consta que a serpente depois de saciar a sua sede, voltava ao seu esconderijo na copa do eucalipto, não sem antes passar por cima do pastor que dormia e sonhava sem se aperceber de tal facto.
        Aconteceu que um dia, o pastor acordou mesmo no momento em que a serpente passava por ele. Mais admirado que assustado, o valente pastor que viu nos olhos do réptil uma certa doçura que o comoveu, passou-lhe a mão pelo dorso acetinado e deixou-a seguir em paz o seu caminho.
        A partir desse dia, a serpente demorava mais um pouco junto ao pastor, sempre à espera do seu doce afago. Até que um dia, levado pelo ímpeto do seu sonho favorito, o pastor beijou a serpente imaginando beijar a mulher dos seus sonhos. Tudo que aconteceu naquele momento, foi o culminar de um desejo que despertou aqueles dois seres. O pastor do seu lindo sonho, a serpente do seu fatídico feitiço. Logo ali, num lampejo de magia, uma bela mulher de longos cabelos, pele morena e olhos negros, apareceu deitada ao lado do pastor que arrebatado pela paixão, logo a pediu em casamento entre juras de amor.
        Perante o júbilo ladrar do cão, em ver o seu dono mais feliz que nunca, o povo ocorreu àquele lugar testemunhando o edílico quadro de amor, à sombra do eucalipto e junto à fonte a que deram o nome de “Fonte dos Amores”.
        O Leça corria calmo no seu leito e na terra de S. Lourenço de Asmes a que chamaram Bela, por entre a caruma e as folhas de eucalipto, via-se uma pele de serpente quase ressequida ao Sol.»

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